Alí está ele, no mesmo lugar de sempre, sentado na areia o velho marujo mira o horizonte azul, entre a fumaça de suas baforadas, no velho cachimbo, herança do seu pai, vício adquirido com o ócio que diminui a dor.
Olhar apaixonado, a imensidão o fascina, concentra-se no que considera a comunhão secreta da vida, a união carnal entre ANU deusa celta da fertilidade e DON o deus da morte. .
Admirado, o velho filosofa, entre uma tragada e outra diz...
“DA ÁGUA VEIO A VIDA E NO CÉU ELA TERMINA, MAS NO HORIZONTE SE UNEM PARA A ETERNIDADE, PARA LÁ EU QUERO IR, QUERO A ETERNIDADE DE MORRER SEM VIVER E VIVER SEM MORRER”
Cerra os olhos entre a neblina de tabaco e o odor de fumo, e como tomado por essas sensações de liberdade,,segue, sem olhar para tras, andar sereno, direto, sem pensar, apenas seguindo seus impulsos, suas paixões, como nunca havia feito em toda sua existencia, avança pela areia macia como se tocasse o céu, o cheiro da maresia toma conta de suas narinas, suga o perfume salino, enche o pulmão ate quase estourar, ele quer tudo,
SEU PERFUME,
SEU GOSTO,
SUAS SENSAÇÕES.
Lança- se na água,
AHHH ... o primeiro toque, felicidade molhada, transcendental, ele a penetra com alegria, com delicadeza mas firme, como quem deflora uma mulher pela primeira vez,
E vai mais fundo, E MAIS! NA IMENSIDÃO UTERINA DO MAR, MERGULHA, NADA, EMBEBEDA-SE DA SUA AGUA.
Nada sem parar, para frente, para baixo, ele quer mais, quer tudo, mais profundo,
SEU AR JÁ NÃO EXISTE!
AH, a falta de ar o faz voltar no tempo, se recorda do azul, azul dos olhos dela , da paixão instantanea, ele a quis tanto... mas suas pernas não deixaram, não teve forças.
Durante anos ele a observou, durante anos sonho com ela, até o dia que a levaram, e em sua presença, foi testemunha do primeiro beijo, sofreu calado
Não pode falar, gritar, chorar... NÃO HAVIA SOM!
A dor era tanta... sentia que ia morrer sufocado, o peito explodir, mas ele não para de nadar...
ACORDA MEU VELHO!!!
Uma voz brusca desperta o velho marujo, sua embarcação, a velha cadeira de rodas, será recolhida, pela doce empregada, assim como fez sua mãe , durante toda sua existência paralitica.
Marcus Donzelli